sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Gudiníus (aos 45 do segundo tempo)


Fim de expediente na sexta-feira, eu quase indo embora...
É quando eu recebo um e-mail do IED - Istituto Europeo di Design com a boa nova. Há algumas semanas participei de um concurso da revista Zupi em parceria com o IED e tive dois trabalhos selecionados entre os 100 melhores.
Enviaram-me o link da exposição.
Vai lá conferir então freguês!


Abaixo o texto que abre a galeria de fotos:

O Istituto Europeo di Design (IED), com a curadoria da revista Zupi, inaugura a exposição Brasilidade Ilustrada. Os trabalhos ficarão expostos na sede do IED, em São Paulo, entre os dias 01/08 e 22/08, de segunda a sexta-feira, das 9h às 20h, com visitação aberta ao público.

A coletânea apresenta uma miscelânea de artes plásticas, desenhos, sketche, vetor e arte digital, com o intuito de apresentar as diversas influências dos diferentes tipos de ilustração na formação de um artista brasileiro. Segundo a curadoria da revista Zupi, para a seleção das obras foram levados em conta técnica, estilo, impacto visual e originalidade.

Cerca de 30 painéis, de 20 artistas de todo o Brasil formam o mosaico de estilos da mostra Brasilidade Ilustrada.

A exposição dedicará também um espaço para a projeção dos melhores trabalhos do concurso ArtiVisive da Zupi, que acabou no último dia 24, reunindo obras de mais de 500 artistas de todo o país. Os candidatos passaram por uma votação popular (mais de 20.000 votos expressados pela internet), e por um júri técnico composto por membros da revista Zupi, do Istituto Europeo di Design e do Estúdio MOL. O ganhador vai receber uma bolsa integral para o curso IED One Year de Ilustração que vai começar no final de agosto.


Por que o céu é azul?



Não faz muito tempo, algumas semanas talvez, eu me perguntava: Como é possível a pasta de dente sair branquinha no miolo e com listrinhas coloridas na volta? Por mais que se aperte de maneira caótica o tubo, no final das contas elas, as listrinhas esbeltas e coloridas, estão lá, bem belas, pajeando a grande e gorda senhora branca que sai pelo meio do buraco, afobadamente procurando uma cama de cerdas macias ou caindo tragicamente sobre a louça da pia, terminando-se como uma disforme plasta dentrifícia.
Eis que por acaso hoje eu chego à resposta, com nome e sobrenome. O sistema, originalmente desenhado para uma marca de pasta de dentes com o sugestivo nome "Stripe" (listra em inglês), foi criado por um senhor chamado John Gallo. E sim, como eu suspeitava, ele é composto por mais de um reservatório que faz a união das cores no final do processo. Simples. Mas eu achava que era improvavel ser assim.

Olha o que eu gravei pra ti...


Bá, maravilhoso isso, nostálgico e acima de tudo romântico. Em plena era do mp3 é possível, sem envio pelo correio, nem o constrangimento de uma face ruborizada, entregar uma fita cassete de presente.


MixwitMixwit make a mixtapeMixwit mixtapes


terça-feira, 26 de agosto de 2008

Saravá!


Meu dia começou bem mais uma vez. Bossa Nova 50 anos. Ipanema. Rádio Ipanema. Garota de Ipanema! Capitão do Mato. Venho de longe chacoalhando no trem da central. Carioca. É melhor ser alegre que ser triste. Saravá!


Samba da Bênção
Composição: Vinicius de Moraes / Baden Powell

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não

Senão é como amar uma mulher só linda
E daí? Uma mulher tem que ter

Qualquer coisa além de beleza
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chora

Qualquer coisa que sente saudade

Um molejo de amor machucado

Uma beleza que vem da tristeza

De se saber mulher

Feita apenas para amar

Para sofrer pelo seu amor

E pra ser só perdão


Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração

Porque o samba é a tristeza que balança
E a tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não

Feito essa gente que anda por aí
Brincando com a vida

Cuidado, companheiro!

A vida é pra valer

E não se engane não, tem uma só

Duas mesmo que é bom

Ninguém vai me dizer que tem

Sem provar muito bem provado
Com certidão passada em cartório do céu

E assinado embaixo: Deus

E com firma reconhecida!

A vida não é brincadeira, amigo

A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera

Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão

Ponha um pouco de amor na sua vida

Como no seu samba


Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

Eu, por exemplo, o capitão do mato
Vinicius de Moraes

Poeta e diplomata

O branco mais preto do Brasil

Na linha direta de Xangô, saravá!

A bênção, Senhora
A maior ialorixá da Bahia

Terra de Caymmi e João Gilberto
A bênção, Pixinguinha

Tu que choraste na flauta

Todas as minhas mágoas de amor

A bênção, Sinhô, a benção, Cartola

A bênção, Ismael Silva
Sua bênção, Heitor dos Prazeres

A bênção, Nelson Cavaquinho
A bênção, Geraldo Pereira

A bênção, meu bom Cyro Monteiro

Você, sobrinho de Nonô
A bênção, Noel, sua bênção, Ary

A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil
Branco, preto, mulato
Lindo como a pele macia de Oxum

A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim
Parceiro e amigo querido

Que já viajaste tantas canções comigo

E ainda há tantas por viajar

A bênção, Carlinhos Lyra

Parceiro cem por cento

Você que une a ação ao sentimento

E ao pensamento
A bênção, a bênção, Baden Powell

Amigo novo, parceiro novo

Que fizeste este samba comigo
A bênção, amigo

A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como

O meu Brasil de todos os santos

Inclusive meu São Sebastião

Saravá! A bênção, que eu vou partir

Eu vou ter que dizer adeus


Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração


segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Começo de uma nova semana



Essa semana começou diferente. Segunda-feira, 6h 35min, levantei e fui correr na Redenção.
Alguma coisa tá errada, já não me reconheço mais.

Ou vai ver que agora é que tudo tá começando a ficar certo?
Acho que pode ser.

Bom início de semana.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Palavra do Dia - 1


Dia desses me inscrevi em um site literário para receber uma newsletter diária, sempre trazendo uma palavra diferente e sua respectiva origem. Pra quem sente alguma dificuldade em achar um tema para seus posts diários é uma boa opção. Hoje recebi a primeira delas. Na verdade não me estimulou muito a escrever exatamente SOBRE a palavra, então eu vou compartilhar com vocês, caros leitores, o texto na íntegra.

Pedigree

"Se você quiser comprar um cão de raça, o 'pedigree' é condição indispensável para ter certeza da origem do animal. No caso dos cães - como no dos gatos e cavalos - as associações locais de criadores emitem este documento reconhecido internacionalmente no qual figura a genealogia do animal até a terceira geração e os prêmios, se os houver, de cada um de seus antepassados.
Este controle é hoje mais rigoroso do que nos primeiros tempos, quando os criadores ingleses de cavalos usavam um método muito mais primitivo: limitavam-se a marcar no animal três segmentos de reta alinhados de tal forma que pareciam as patas de uma grua, ave encontrada em planícies e zonas pantanosas de todo o mundo, com exceção da América do Sul e Antárctica. Por esta razão os franceses chamaram esta marca de 'pied de grue' (pata de grua). Pode-se imaginar um inglês tentando pronunciar 'pied de grue'? Bem, os ingleses adaptaram a palavra para sua língua como 'pedigree' e com esta mesma grafia é adotada na fala brasileira.
"

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Loucura sábia ou a sanidade tola?


Este post foi batizado por acaso, pois, quando eu estava já com a janela do blogger aberta, resolvi dar uma olhadinha no orkut e me deparei com essa frase no perfil de uma amiga. Quem disse isso, através de seu célebre personagem Don Quijote de la Mancha, foi Miguel de Cervantes Saavedra (esse nome sempre me lembra a Emília do Monteiro Lobato).
Este post é sobre a loucura.
E disso ele, o Cervantes, entendia.


Desde que eu vim morar na Cidade Baixa, já com 5 meses de Porto Alegre, comecei a reparar na rua a quantidade de pessoas que costumam conversar consigo mesmas. Eu nem vejo isso como um problema, nem nada... Na verdade eu até admiro, acho de uma coragem ímpar o cidadão imaginar um companheiro, caminhando ao seu lado ou pousado em seu ombro, e travar verdadeiros diálogos - com direito a risos, expressões de espanto, admiração, raiva e até mesmo afeto - na frente de todos, sem se importar com julgamentos, risos ou galhofas.

Primeiro eu olhei com certa estranheza, como todo mundo, e comecei a formular algumas hipóteses... A mais forte delas era a de que eu não estava prestando atenção e que essas pessoas, que eu pensava estarem falando sozinhas, estavam na verdade usando o celular com fones de ouvido. A partir dessa constatação eu passei a observar melhor, olhando dentro das orelhas alheias. Hipótese descartada. Elas estavam realmente falando sozinhas. Foi então que eu comecei a entender essas pessoas e até mesmo admirar, como eu já disse antes. Depois de olhar para fora, comecei a olhar para dentro, comecei a observar os meus próprios atos, então veio a segunda hipótese. Quantas vezes eu peguei a mim mesmo falando sozinho... Não de maneira exacerbada, mas de leve, formulando respostas para perguntas ainda não feitas. É como num jogo de xadrez, em que a gente antecipa as jogadas pensando nas possibilidades que o adversário tem de se mexer, e nas que serão geradas a partir da próxima jogada, e da próxima, e assim sucessivamente. Para tornar mais real esse xadrez dialógico, personificamos nós mesmos o nosso interlocutor... em um nível mais extremo, até mesmo imitando vozes, trejeitos e características psicológicas do sujeito. Aqueles indivíduos (ou divíduos, se realmente acreditarem estar conversando com alguém) poderiam estar apenas formulando seus pedidos de demissão, imaginando como seria chegar junto naquela gostosa do segundo andar, ou até mesmo pensando no que falariam na próxima vez que algum operador ativo de telemarketing (é, eles têm disso de ativo e passivo e tal...) ligasse pra oferecer cartões de crédito.

Tudo bobagem, a terceira hipótese é que vale. Na verdade são espíritos carentes que precisam de um ombro amigo pra desabafar. Eles chegam de mansinho, na calada da noite, e assustam em um primeiro momento, mas logo logo os seus receptores se acostumam, começam a ver que ambos têm uma afinidade tremenda e daí pra sair pra tomar uma ceva na Cidade Baixa é um pulo.

Eu vinha procrastinando este post há horas, mas até foi bom, porque eu consegui amadurecer a idéia um pouco mais. Além disso, agora que eu vou contar o fato que desencadeou a minha motivação para escrever este texto sobre insanidade. E que fique bem claro, insanidade muitas vezes não é um defeito, pode ser até mesmo um bom diferencial, principalmente nas áreas por onde eu transito.

Na sexta-feira passada, em uma festa no Cabaré do Beco (Antigo Cabaré Voltaire), eu tomei conhecimento de um sujeito muito ímpar. Ele é conhecido como o Carinha da Escada. Como assim "O Carinha da Escada"? Exatamente, essa foi a pergunta que eu fiz ao meu amigo que me mostrou a figura. Explicando: o cara, trajado de jaqueta preta de couro, fica estaqueado durante a festa inteira (apenas com pausas para ir ao banheiro) embaixo da escadaria do lugar. Se fosse só isso não seria nada, pois ele poderia ter encontrado o seu lugar místico, sua mandala xamanística ou o-que-quer-que-seja-ístico ou espiritual. Mas não, ele além de ter o seu lugar reservado nessa espécie de cova, fica atento a cada subida feminina pela escada, estejam as mulheres de saia ou não. Daí fica um pouco mais bizarra a parada, mas ainda assim é um nivel de tara aceitável para padrões humanos convencionais, principalmente no eixo Bom Fim - Cidade Baixa. Não contente apenas com os vislumbres de coxas e virilhas de um ângulo privilegiado, ele ainda seleciona algumas candidatas e põe a sua mão em um dos degraus para ter os seus dedos pisoteados por elas. E depois cheira os dedos. Porras, daí ja virou um fetiche bizarro sadomasoquista em praça pública. Não dá pra ser condescendente e dizer que isso é normal. Falar sozinho é uma coisa, ser o Carinha da Escada é outra beeem diferente. Que fique bem claro, mais uma vez: Não estou condenado o infeliz, longe de mim, estou apenas colocando ele em um patamar diferente dos conversadores. Mas uma coisa é certa: é MUITO engraçado ver a cena acontecendo.

A noite foi divertida. A música tava boa, a companhia tava massa pra caralho e, além de tudo isso, tinha o Carinha da Escada. Sem noção. Voltei rindo sozinho pra casa. He. Hehe. Hehehe. Muuuuuu! Heheheheh. Muuuuuuuuuuuuuuuuuu... HaHaHaHaHa!


Crédito da ilustração: Rafael Sica.
Pra conhecer o trabalho do magrão, vai lá no Quadrinho Ordinário

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Conclusão sobre a humanidade



Só existe dois tipos de pessoas:
As que têm o umbigo pra fora e as que têm o umbigo pra dentro.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Cotidiano e o canto do bem-te-vi

Entender a cabeça de um músico ou de um poeta é algo muito louco. Recebi por acaso este vídeo hoje e me veio à memória um fato que eu estou para comentar há horas.



Tu já ouviste o canto de um bem-te-vi? Que fica repetindo à exaustão "bem-te-vi! Bem-te-vi! Bem-te-vi!"? Claro que sim. Isso é o que acontece com a massa geral da espécie dos bem-te-vis. Todos sabem que nós, humanos (se tem alguém não-humano lendo aí, peço perdão), temos indivíduos, ou espécimes, que se destacam dos outros, de forma a ganhar um brilho sem igual, que chega a durar gerações e mais gerações, como é o caso do Chico Buarque. Mas nem todos sabem que isso também acontece no reino animal (dos demais animais, incluindo sapos, baratas, ursos, galinhas e bem-te-vis, mas não nós, humanos - perdão mais uma vez).
Buenas, vamos agora à minha história. Eu, quando ainda morava em Pelotas, em um semi-chalé de madeira (uma suíte, por assim dizer), construído sobre o teto da casa dos meus pais, certo dia notei um canto de bem-te-vi diferente... Ele bem-te-vizeava em uma cadência incomum, mas ainda assim muito familiar. Em vez daquela monótona repetição, ele cantava: "Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi, te-vi..." (tenta cantar isso mentalmente pra ver o som que dá, sem esquecer que as reticências do final são muito importantes). Isso foi uma vez. Agora imagina que todo dia ele fazia tudo sempre igual. Não sei se chegava a me sacudir às seis horas da manhã, e nem se ele me sorria um sorriso pontual, mas definitivamente não me beijava com a boca de hortelã. Virou quase uma rotina. Ficou cotidiano. Mas era muito legal.

Tá me acompanhando?

Pois então, aquele bem-te-vi, para mim, era um espécime raro, com brilho próprio, que um dia resolveu ousar. Talvez seja o mesmo que cantou na janela do Chico, enquanto a Marieta sacudia ele às seis horas da manhã, sorria para ele um sorriso pontual e o beijava com a tal boca de hortelã patrocinada pelo creme dental Eucalol. Talvez seja um bem-te-vi da nova geração que não quer deixar morrer o canto de seu mestre. Talvez seja um bem-te-vi que nunca ouviu falar do Chico Buarque, mas que resolveu ousar e fugir da rotina do cotidiano e da repetição. Me pergunto se a inspiração para compor Cotidiano não foi exatamente esta. Será que tudo começou com o canto de um bem-te-vi? Sei lá, é possivel. Um dia eu pergunto pra ele.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Teus filhos

Reproduzo abaixo a poesia do Gibran em espanhol porque foi assim que eu a conheci, e foi dessa forma que ela me tocou.

* * *

Tus hijos

Tus hijos no son tus hijos
son hijos e hijas de la vida
deseosa de sí misma.
No vienen de ti, sino a través de ti
y aunque estén contigo
no te pertenecen.
Puedes darles tu amor,
pero no tus pensamientos, pues,
ellos tienen sus propios pensamientos.
Puedes abrigar sus cuerpos,
pero no sus almas, porque ellas,
viven en la casa del mañana,
que no pueden visitar
ni siquiera en sueños.
Puedes esforzarte en ser como ellos,
pero no procures hacerlos semejantes a ti
porque la vida no retrocede,
ni se detiene en el ayer.
Tú eres el arco del cual, tus hijos
como flechas vivas son lanzados.
Deja que la inclinación
en tu mano de arquero
sea para la felicidad.

Gibran Khalil Gibran

domingo, 10 de agosto de 2008

Um típico fim de semana arquetípico.

Duas horas até o embarque. E eu aqui procurando o que fazer.
Buenas, penso eu, vou escrever um post pro blog.

Queria ter mais horas, mais minutos, mais tempo, mais mais...
Eu tô me apegando novamente a Pelotas. Fazia tempo que eu já não tinha sentimentos tão bons a respeito da minha cidade. Parecia que tudo que estava aqui era ruim, que a cidade estava toda estagnada num manancial de melancolia e mediocridade. Já pensei isso sobre Camaquã, no tempo em que o meu porto seguro era aqui e todo o lixo da condição humana se depositava por lá. Descobri com o passar do tempo, que a gente sempre está em busca dos arquétipos do vilarejo, do bairro, da tribo. Arquétipos que se manifestam em forma de coisas, lugares e pessoas... Eles servem apenas como referência, nunca, ou raramente, como o próprio objeto de desejo. Se a entidade arquetípica se defrontar com a concretude da realidade cotidiana como um ser palpável, tangível e até mesmo visitável, abraçável e beijável, então ela se torna algo com três ou até mesmo quatro dimensões, com defeitos e qualidades, com profundidade, largura, altura e tempo a ganhar ou perder. O arquétipo não representa apenas um ideal no bom sentido que essa palavra carrega, ele pode ser uma referência de algo ruim ou medíocre também. E também pode ser algo tíbio, morno, sem sal. Também pode ser algo misterioso. O arquétipo está lá, em um pedestal ou coisa que o valha, nunca te olhando, nunca te percebendo, apenas sendo percebido, notado, idolatrado, odiado. A relação entre arquétipo e sujeito nunca é bilateral. A gente vai embora. Ele fica lá, imóvel, esculpido na nossa memória.

* * *

Pois a vida continua, e depois que a flecha foi lançada, não se pode voltar atrás. O retorno para o vilarejo depois de uma partida definitiva sempre soa como derrota... Mas quem disse isso? (muitas pessoas talvez, mas no próximo post eu vou exemplificar com um poema do Gibran) Existem formas e formas de se retornar. Eu nunca pensei em voltar a morar em Pelotas novamente depois que eu botei o meu primeiro pé em Porto Alegre (e continuo não pensando), mas eu estou conseguindo me reconciliar com a cidade aos poucos... Voltei a torcer pelo Xavante (após um longo período de afastamento do assunto futebol em qualquer instância), tenho visitado meus pais com mais freqüência e cada vez mais encontro motivos pra estar aqui.

* * *

Meus arquétipos estão me perseguindo agora e eu estou perseguindo eles. Voltei a sonhar com coisas que eu já não via mais. Tirei as tapadeiras dos olhos e minha visão periférica da vida voltou a funcionar. Às vezes, quando a gente volta, os arquétipos já não estão mais como a gente os guardou. E nesse momento é que a surpresa acontece. Aquela foto envelhecida, amarelada e comida pelas traças já não representa mais o que costumava representar. O arquétipo cresceu, passou a ser tangível, palpável, abraçável e até mesmo beijável. O arquétipo mudou, desceu do pedestal e encarou a realidade.


Satolep, 10 de agosto de 2008

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Beber

Beber é bom demais / Beber demais é bom?

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