sábado, 28 de fevereiro de 2009

iBope




segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Palavra do Dia - 10


CARNAVAL

Este ano eu vou pular o carnaval.

Paradoxo



"A palavra oxítona é proparoxítona"


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

C17H19NO3




Con amor y con dolor


Ela fechou a porta com vagar extremo e se afastou, furtiva, como quem abandona um doente que acaba de adormecer à meia-noite.

Tal qual Ana Néri – cujo rosto, para mim, sempre foi o de uma bela loira com o indicador sobrepondo transversalmente os lábios em forma de bico, emoldurada em um quadro branco, fazendo "shh", pedindo silêncio, lá do alto, intocável – ela, a bela loira, portava uma seringa usada em suas mãos. O êmbolo pressionado escondia um resíduo líquido entre si e a finíssima agulha. Poderia muito bem ser algum remédio, mas, como dizem, a diferença entre o que cura e o que mata pode ser apenas a dosagem.

Ela seguia sobre os ladrilhos da Santa Casa de Misericórdia. Dobrou uma das esquinas dos intermináveis corredores cor de creme e deparou-se com um rosto familiar. O rosto de uma bela loira emoldurado em um quadro branco, olhando-a de cima, com ar de superioridade e repreensão. Ao chegar mais perto, teve a sensação de olhar para si mesma. Ao ver o gesto de pedir silêncio, acompanhado de um sutil sorriso, soube que poderia contar com a sua cumplicidade.

Para o que ela fizera não havia perdão, mas, estando na Casa da Misericórdia, imaginava que poderia haver um pouco de compreensão por parte de seus superiores. Tanto os de carne quanto os de espírito.

No fim do corredor um vulto a surpreendeu, aumentando os seus batimentos cardíacos. Era um padre. À medida que ele se aproximava, suas pupilas começavam a se contrair. Eufórica, seguiu, de cabeça baixa, em direção ao irmão. Sentiu os músculos enrijecerem. Já não sentia as pontas dos dedos, estavam completamente dormentes, deixou a seringa cair no chão. A dez passos do sacerdote, começou a sentir calores e coceira na pele, começou a passar suas unhas insensíveis sobre a pele do antebraço. O irmão a cumprimentou com um meneio de cabeça e um sorriso, ela seguiu em frente. Pensou ter visto uma acompanhante de um paciente fumando à porta de um dos quartos da ala. Ao aproximar-se, viu que não havia viva alma ali. Dobrou mais uma esquina. Sua respiração estava dificultosa, tentou tossir e o ar não saía. Tentou mais uma vez, e outra. Sentiu-se sufocada. Tentou mais uma vez. O ar não lhe veio, e sim o jantar. Uma golfada de vômito, acompanhada de tonturas, fizeram-lhe quase tombar. Segurou-se na parede creme. O mundo girava ao seu redor.

Apesar de tudo isso, a dor continuava. Nunca seria perdoada pelo que fizera. Desmaiou sobre o seu vômito. Achou que poderia por um fim naquela dor que a corroia. A dor de uma rejeição. Tudo começou a escurecer, seus batimentos cardíacos diminuíram, diminuíram, e foram diminuindo até quase cessar. Eram duas da manhã. Os corredores estavam vazios. Estava longe da enfermaria. Não havia sequer uma acompanhante de paciente fumando àquela hora da madrugada.

Quando seus batimentos cessaram por completo veio o alívio. Não seria perdoada por ter trepado com um dos padres. Não seria perdoada por ter – após a rejeição em uma segunda e mais algumas investidas – tentado aliviar a sua dor com morfina dos estoques da Santa Casa. Não seria perdoada.

Agora, finalmente, a dor se foi e o seu perdão está nas mãos do Espírito Santo. Misericórdia.

Pelotas, 16 de fevereiro de 2009


Para saber mais, clica aqui.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Grande



Alguém viu a placa do caminhão que me atropelou na terça passada? Só vi que era maior que eu.

Palavra do Dia - 9

TAQUIGRAFIA

Faz tempo desde a última postagem de palavras do dia. E vejam só que ironia. A palavra é taquigrafia. Os antigos gregos usavam estes radicais(takhys e graphos) pra denominar quem mais rápido escrevia. Por meses pensei, penei, pensei, enrolei, quis escrever alguma coisa, mas o que eu não sabia. Pois vejam só: na minha demora, ao resgatar em meus e-mails, surge a palavra no Quiosque da Utopia. Taquigrafia. Postei, a palvra está aí, ainda que tardia.

P.S.: Não sei porque rimei, talvez na pressa de escrever, com este estilo me deparei. não sei porque rimei. Não sei. Não sei.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Who watches the watchmen?





Sketchbook interestadual


Sítio Ypióca, Maranguape/CE. Um arado. Sol da uma da tarde (no fuso horário deles). Uma sombrinha de meio dia embaixo do bicho. Calor do cão.

Mais sketches



Sketchbookeando por aí


Na Padre Chagas, bairro Moinhos de Vento, em frente à padaria Listo. Uma árvore. Numa quarta-feira à tarde.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Emos no Nova Olaria




Este bicho, segundo o meu amigo Vilso, que me acompanhava nessa incursão a um assentamento do MST na região de Canguçu, se chama cobreiro (agora não sei se o indivíduo animal ou o coletivo). E foi exatamente desta cena que eu lembrei quando vi pela primeira vez, em um domingo à noite, a concentração de emos em frente ao complexo de entretenimento Nova Olaria, na Cidade Baixa (Porto Alegre/RS).

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Resgate


Abaixo vai um conto que eu escrevi há alguns anos, na época eu não tinha blog pra publicar, mas acabei roteirizando e virou um curta-metragem, com narração do Zé Vitor Castiel.
Com vocês...



Interiores Frágeis

Ana Lúcia não tirava de sua cabeça a idéia de progredir em sua vidinha medíocre e sem oportunidades. Não tinha filhos nem marido, trabalhava no comércio, era vendedora em um bazar de mais-ou-menos-um-e-noventa-e-nove, próximo ao mercado central. Freqüentemente notava a garganta irritada – culpa do cigarro, talvez – pensava. Não era bonita nem feia, sempre foi solteira por opção, ou talvez por passar despercebida por onde quer que fosse. Sua personalidade tinha a intensidade de um copo d’água. Ela era, como bem lembrava das aulas de ciências do ensino fundamental em uma escola do município, insípida, inodora e incolor. Agora, próxima da casa dos trinta, não era diferente, a não ser pela idéia das iminentes rugas que ainda não lhe haviam despontado. Sua passividade ante sua realidade irritava algo dentro de si, mas ela, “movida” por esta mesma passividade, continuava imóvel. Seu cotidiano diurno era como um invólucro lacrado recheado de alguma coisa morta que, de alguma forma, desperta um sentimento de tristeza ou piedade. Algo como aqueles vidros de Nescafé com fetos inchados de cavalo boiando em formol, com uma coloração amarelada, tipo mijo, que se eternizam nas prateleiras dos laboratórios escolares.

Ouvia diariamente a mediocridade tagarelando em seus ouvidos, pela boca dos fregueses. Inalava a mediocridade, na ida para o trabalho, pelo exaustor das carrocinhas de churros acampadas no calçadão. Observava a mediocridade na expressão do cachorro sarnento que disputa espaço com um já célebre mendigo sob a marquise de um banco. Esbarrava na mediocridade a cada esquina que desdobrava à força de seus passos. Degustava a mediocridade no fel habitual que lhe caía sobre a língua e percorria seu sistema digestivo até chegar ao estômago que sempre lhe faltava nos momentos decisivos. A tudo isso, em seu caminho de volta, percorrido em parte a pé e todo o resto em um ônibus lotado, adicionava-se uma bela dose de cansaço físico.

Esgotada pela moenda que lhe esmagava as vértebras, uma a uma, dia a dia, já noite alta, girava a chave na fechadura e, ao ver o abajur aceso e seu divã vermelho no abrir da porta que range, era como se deixasse pra trás parte do peso de suas responsabilidades. Algumas horas de descanso para o seu corpo já eram suficientes. Para sua alma seriam necessários a eternidade e mais alguns minutos após esgotado o tempo regulamentar. Com os olhos rubros e o corpo formigando entrava no banho, fazendo descer pelo ralo o asco impregnado em sua pele.

Renovada, preparava-se com esmero, com minúcias, para, enfim, transformar-se em uma outra pessoa. Quem a via penetrando com tamanha audácia os ambientes luxuriosos que faziam parte da rotina de seu Eu noturno, nunca imaginaria vê-la sob um coletezinho azul com o nome de uma lojinha popular impresso em letras brancas. Lá naquele lugar ela já nem lembrava de seus afazeres diurnos, das contas a pagar e muito menos da família que um dia tivera. Estava lá, sempre, para se divertir, para viver um papel, um papel para o qual não havia sido escalada no momento em que escreveram o roteiro de sua vida, da qual sempre fora uma simples figurante. Era lá que encontrava, com freqüência, pessoas que lhe pareciam dar atenção. Lá que ela podia beijar outra mulher, Savanah – na verdade Silvana –, uma de suas muitas “amigas”, com uma sensualidade que nunca imaginaria ter ao beijar um homem. Beijavam-se não só com os lábios, mas com o corpo todo, com cada extensão. Cada centímetro parecia possuir uma espécie de língua com uma cavidade bucal correspondente do outro lado. Assemelhavam-se a uma só pessoa, dada tal magnífica fusão. Era desta maneira, em um ciclo de picos e vales, que a vida de Ana Lúcia se equilibrava, sobre um fio de tolerância quase invisível e sem sustentação. Um pouco de álcool e algumas drogas disfarçavam sua aparência pacífica, fazendo emergir de seu interior uma espécie de leoa furiosa, sedenta por tudo e por todos. Engolia a sua companheira como se quisesse levar pedaços dela entre os dentes para desfrutar de seu gosto no dia seguinte, vivia intensamente cada momento com seus amigos fugazes para contrastar com as companhias que tinha que aturar em horário de expediente, desfrutava daquele ambiente enfumaçado de cigarro e volatilizado de bebida como se noite após noite não retornasse sempre para fazer sua fuga diária e apagar da mente as paredes lotadas de carrinhos de plástico vagabundo, cestinhas de lixo com vaquinhas pintadas e utensílios domésticos descartáveis de múltiplo uso. Era essa a vida de Ana Lúcia, por inteiro, de dia uma presa dócil e míope, caminhando constantemente em direção a um enorme sumidouro feito de lodo e repleto de mediocridade, à noite uma ave de rapina, sempre pronta para agarrar indefesos animais que pensam estar seguros sob uma máscara de superficialidade feita de um fino vidro que de nada serve para proteger seus interiores mais frágeis ainda.

Na manhã do dia seguinte Ana Lúcia não apareceu para trabalhar, nem na outra, e nem nas que se seguiram, seu patrão já começava a pensar em lhe enviar uma carta de aviso de demissão. Sua existência só foi notada em seu prédio, pela primeira vez, quando de seu apartamento começaram a exalar os odores putrefatos de sua carne em decomposição e alguns vizinhos começaram a reclamar, pensando ser o cheiro de algum animal morto. Em suas mãos foram encontrados apenas uma caixa vazia de Ri-do-rato e um bilhete em branco, assinado por ela e dirigido a ninguém.

Pelotas, 07 de abril de 2003


segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Her Morning Elegance



Às vezes a inspiração vem de lugares ou motivos inusitados...
Às vezes ela vem dos mais óbvios. Mas inspiração e sentimentos não precisam necessariamente de originalidade.
A inspiração? Aqui.

Pop art / colagem / viagem


Convite de formatura em formato de cartão postal, para uma amiga.

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