terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobre criaturas e desenvolvimento fetal


Há ratos, ou pássaros - ou ratos e pássaros coabitando pacificamente - dentro das paredes do meu antigo quarto de dormir. Vejo ramos de capim seco, usados na confecção dos ninhos, saindo pelas frestas. Os guinchos em alta frequência dos roedores se alternam com os trinados dos pardais e com os semi-barulhos dos filhotes, não sei se de ratos, não sei se de pássaros. Difícil dizer, já que até uma certa idade é impossível distinguir um ser humano de um pinto. Certa vez até confundi um dogue alemão com um terneiro.
Paredes ocas, feitas de pinus com andares feitos de travessas de madeira sólida abrigam animais de uma fauna que não pertence àquele habitat. Ele arranham, gemem e gritam. Não me deixam dormir. Batidas nos lambris, que derrubam as pelotas de cimento depositadas nas entranhas da última fronteira pré-fabricada do lugar, fazem com que eles se agitem, tentem sair a todo custo. Olho para o chão e vejo diversas manchas marrons sobre as tábuas corridas, também feitas do famigerado pinus. Penso serem as manchas os nós da madeira. Os nós duros que custam a queimar na lareira durante as frias noites de inverno. Os perfis seccionados dos nós-de-pinho começam a circular pelo ambiente como baratas tontas sob o lusco-fusco do abajur rebatido. Esfrego os olhos e os ouvidos, acendo a luz e tudo - ratos, pássaros, baratas, cachorros, pintos, seres humanos e terneiros - volta ao seu devido lugar.

Pelotas, 21/04/09.

2 comentários:

anaband disse...

tem ratos - ou pássaros, ou morcegos, ou... - vivendo sobre o forro do meu quarto. quando eu aquieto e eles despertam, eu fico pensando: quem ocupa o lugar de quem, ali?
mas ali, acho, ninguém volta pro lugar, depois.

muito bom te ler, Mau! :)

maumau disse...

heheh, no meu caso só as baratas-nós-de-pinho que voltam, o resto fica :)

Vou tentar seguir com uma voa frequencia de postagens textuais... equilibrar com os desenhos.

valeu. Beijao!

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