terça-feira, 20 de julho de 2010

A VERDADE POR TRÁS DE LOST

O relato a seguir, narrado em primeira pessoa por um indivíduo que preferiu permanecer no anonimato, é baseado em depoimentos de fãs e estudos estatísticos independentes de audiência televisiva.


O ano era 2004. O dia em que tudo começou? 22 de setembro.

Enquanto nós, incautos telespectadores, éramos absorvidos pela tela da TV, episódio após episódio, o ainda desconhecido Grupo Hanso e a chamada "Iniciativa Dharma", até então simples criações fictícias de roteiristas inspirados, estrategicamente implantavam ideias em nossas mentes e posicionavam seus produtos na prateleiras de supermercados do mundo todo.

De tão envolvidos que estávamos com a trama inicialmente banal da série, envolvendo um grupo de sobreviventes em uma ilha deserta, que ganhava fôlego com a inclusão de monstros e acontecimentos misteriosos e que - mal sabíamos nós - não conduziria a lugar algum, passamos a confundir realidade e ficção, consumindo chocolates Apollo e cervejas com estranhos octagramas orientais impressos nos seus rótulos. Milhares de zumbis - no sentido mais tangível da palavra, sem alusões a antropofagia - veneravam um novo mundo que era descortinado semana a semana.

A pausa entre uma temporada e outra chegava a causar histeria coletiva, fazendo com que os milhões de vítimas buscassem saciar sua sede nos chamados Jogos de Realidade Alternativa (ARGs: Alternate Reality Games). E foi a partir dessa oferta de interação que os poderosos da rede ABC de televisão galgaram o primeiro degrau de sua dominação. Nas primeiras temporadas exibidas em redes de TV aberta houve alguma incredulidade por parte de uma grande parcela da audiência. Houve um descompasso entre as transmissões de diversos países, então algumas pessoas começaram a assistir a série quase um ano depois de sua data original de lançamento. Mas esse problema já era previsto pelos produtores, que declararam publicamente não se importarem com a pirataria, com o download ilegal dos episódios. Pessoas que em um primeiro momento não viam razão para acompanhar a trama, passaram a correr atrás do "tempo perdido".

Algumas temporadas depois, 90% da população mundial já cedia, de forma sincronizada, aos apelos sedutores dos produtores da rede de TV ABC (sócia majoritária de ambas as organizações citadas no início do texto). Os 10% que ainda se apegavam à sua lucidez eram vistos como lunáticos, que negavam a nova realidade apresentada ao mundo. Por força da quase unânime opinião sobre o show, muitos casos de internação em instituições psiquiátricas foram registrados ao longo dos últimos seis anos. As pessoas que alegavam que aquilo tudo não existia, que era uma ilusão, uma "nova matrix", ou as que conseguiam ir além e ver que realmente existia uma conspiração, foram consideradas ruídos no plano da Rede ABC, e foram desacreditadas de suas faculdades mentais, permanecendo até hoje confinadas em aposentos acolchoados, longe do resto da população. A maioria dos fãs entrou no "jogo", corroborando com teorias especulativas de viagens no tempo e pesquisas científicas, que mascaravam o verdadeiro objetivo do grande canal de televisão, que era manter mentes ocupadas tentando resolver anagramas sem sentido e quebra-cabeças insolúveis enquanto decisões políticas e de ordem econômica com âmbito mundial eram tomadas em meio a fumaças negras muito mais densas e reais do que imaginávamos. Presidentes foram depostos enquanto Jack tentava encontrar razões para estar na ilha; Preços de substratos energéticos foram estabelecidos enquanto Kate decidia com quem ficava, se com Sawyer ou com Jack; Povos de pequenas nações foram dizimados entre um salto e outro no tempo. Tratados abusivos entre governos imperialistas foram assinados enquanto especulávamos quem seria Jacob. Mistérios se acumulavam sobre mistérios, e nós, os fãs, defendíamos com unhas e dentes a pantomima de LOST, dizendo coisas do tipo: "pode parecer não ter sentido agora, mas tudo vai se resolver no final".

Com a chegada da última temporada, o cunho religioso da série estava sobrepondo todo o suposto pensamento científico da trama. Uma pequena parcela daqueles 90% foi acordando aos poucos, à medida que se criavam mais enigmas e se dava menos respostas. Algumas pessoas começaram lentamente a perder a fé no fechamento perfeito do ciclo, na possibilidade de obtenção de respostas plausíveis. Essas pessoas, e incluo a mim neste grupo, saltaram fora antes do capítulo final. Não deixamos de assistir, fomos firmes, mas agora tínhamos olhos críticos sobre a história defectível que sempre foi.

Os encaminhamentos para o fim da série apontavam para um caminho apenas: Deus ex machina. Os realizadores da série, atentos às especulações dos espectadores, moldaram a série de forma a desviar a trama de todos os caminhos já sugeridos, fazendo que o indivíduo pensasse sempre estar um passo atrás da história. Em uma artimanha digna de Sherazade, a rede ABC conduziu a nós, Sultões de reino algum, durante 2112 noites de angústia (reparem na relação numérica - recurso recorrente na história - de 2112 com 1001 noites. Será apenas coincidência? Duvido.), rumo a um cadafalso existencial. O show televisivo e pirotécnico terminou sem dar respostas a muitas perguntas, e ainda jogou fora detalhes importantes, como a própria Ilha, que no fim das contas não teve importância alguma.

O final meramente (?) religioso pavimentou em muitos o sentido de devoção - esses acharam aceitável, seja por orgulho ou fé cega, que a série se resumisse ao amor que uns sentiam pelos outros -, e em alguns um sentimento de revolta, de inconformismo. Fóruns debateram por semanas os sentidos possíveis de serem lidos nas entrelinhas. Alguns blogueiros defendiam a resolução, outros rejeitavam. Mas agora é tarde, a imagem do novo Deus a ser venerado nos cultos de uma nova religião já está concretizada, e ela é a de um gordo, sentado em um sofá, em frente à televisão, que passa seus dias engordando cada vez mais, deglutindo guloseimas e consumindo tudo o que lhe é mandado "milagrosamente" dos céus, assim como somos todos nós, que fomos moldados à sua imagem e semelhança.

Porto Alegre, 20 de julho de 2010.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sinto te dizer maumau, mas vc falou, falou, usou linguagem de monografia de conclusão de curso e não disse nada. Aliás, parece que vc mais se enrolou em dar um sentido para o q vc escreveu e não falou coisa com coisa.

maumau disse...

Anônimo,
das duas, uma: ou não leste todo o texto ou não viste a série até o último episódio. E há uma terceira possibilidade ainda, caso tenhas chegado ao fim das duas coisas: não entendeste o que eu escrevi (fica difícil eu duvidar ou não da tua capacidade de compreensão sem ter ideia de quem quer que sejas).

Anônimo disse...

Meu chapa, um relato desses só poderia ser sobre a série lost mesmo. Foi, voltou e não chegou em lugar algum.

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